quinta-feira, 26 de julho de 2012

Três décadas de Mudança




Vicissitudes várias da evolução dos modos cinematográficos justificam a aglomeração destas três décadas numa única unidade temática. O surgimento do cinema sonoro, em 1927, operou uma revolução de proporções inesperadas: actores consagrados viram-se subitamente incapazes de proferir as mais simples falas; as salas de cinema tiveram que ser reapetrechadas para albergar esta nova dimensão sensorial, e os argumentistas tiveram que adaptar os seus escritos às limitações técnicas dessa revolução.

O inesperado sucesso de DRACULA (Tod Browning) em 1931, tornou o Horror um género altamente lucrativo, como viria a ser comprovado, ainda nesse mesmo ano, pelo FRANKENSTEIN de James Whale. E não só os filmes foram tremendamente bem sucedidos, como tornararam os seus principais intérpretes, Bela Lugosi e Boris Karloff, em figuras instantaneamente reconhecíveis. O cinema de Horror continuou com ímpeto crescente ao longo da primeira metade da década de trinta - período em que verdadeiramente ganhou a sua identidade, uma iconografia própria, e os primeiros actores reconhecidamente ligados ao género (para além de Lugosi e Karloff, Lionel Atwill ocorre de imediato à mente), além de ganhar a sua primeira scream queen, Fay Wray, imortalizada em KING KONG (1933) - mas a crescente pressão censória após a aprovação do famigerado Hays Code (1934), provocou uma quebra de produção por volta de 1935, ano de MAD LOVE, mas também das primeiras sequelas (BRIDE OF FRANKENSTEIN, etc..).

O género haveria de languedescer até 1939, quando a fortuita double bill de DRACULA e FRANKENSTEIN num cinema de Los Angeles revelou de forma bem expressiva o apetite do público por esse tipo de cinema. Ainda nesse mesmo ano começaria a ser produzido SON OF FRANKENSTEIN. Nesse ano, também, deflagrou a guerra na Europa, que se estenderia até aos Estados Unidos da América, principais produtores desse tipo de cinema, naquele fatídico 07 de Dezembro de 1941.

Os anos da guerra limitaram-se essencialmente a remastigar as fórmulas do género. O horror deixou de ser um elemento essencial, suplantado por um carácter de comicidade, que, estranhamente, em filmes como ABBOT AND COSTELLO MEET FRANKENSTEIN, redundou nalguns dos mais eficazes filmes da Universal. É também nos anos quarenta que assistimos à emergência do ciclo de filmes protagonizados por Cientistas Loucos, uma recrudescência dos anos trinta, que faria perfeitamente a ponte com o novo cinema de Horror dos anos cinquenta, um híbrido entre o filme de monstros e a ficção científica. As notáveis excepções deste período são os filmes produzidos por Val Lewton [dos quais se destacam CAT PEOPLE (1942) e I WALKED WITH A ZOMBIE (1943)] - filmes de uma beleza estética assombrosa e com temas clássicos tratados de forma revolucionária.

Nos anos cinquenta, o filme de Horror dividiu os temas e os ecrãs com a Ficção Científica, e em muitos casos é difícil classificar filmes como THE THING (1951), INVASION OF THE BODY SNATCHERS (1956) ou THE FLY (1958) num ou outro género. Entre monstros e mutantes radioactivos, invasões espaciais, cientistas loucos, e paranóias anti-comunistas, o cinema de Horror foi tropeçando até ao final da década, actualizando os seus temas e a sua estética (como sucedeu no paradigmático caso da Hammer no Reino Unido) e delimitando os seus territórios, até que, em 1960, três filmes bem distintos, dos dois lados do Atlântico, introduziram elementos únicos e afirmaram uma nova forma de tratamento do horror: foram eles PSYCHO de Alfred Hitchcock, PEEPING TOM de Michael Powell e HOUSE OF USHER de Roger Corman...

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